terça-feira, 23 de setembro de 2008

Qualidade de vida, a arte de viver em paz

Por Leila Navarro
Qualidade de vida é a arte de viver em paz, o indivíduo consigo mesmo, com a natureza e com a sociedade.

Hoje sabemos que o ambiente que devemos preservar começa dentro de cada um de nós e vai, gradativamente, envolvendo e integrando todos os demais ambientes que nos cercam. Na realidade, ele se inicia por algumas escolhas que fazemos diariamente, como ingestão de alimentos que não são saudáveis, transmissão e recepção de informações poluídas, consumismo exacerbado, etc, até chegar na poluição dos espaços em que vivemos.

Cada decisão que tomamos interfere num contexto global desencadeando uma reação, que apesar de ter sua abrangência total desconhecida, é um fato hoje provado pela física moderna. Não precisamos ir muito longe para percebermos que algumas ações têm conseqüências mais desastrosas e rápidas que outras, na maioria das vezes irreversíveis.

Prevenção é a palavra-chave que define qualidade de vida. Mas eu gostaria de ampliar este conceito acrescentando outras palavras: preservação e precaução. Pois Deus, quando criou o homem, "anexou um programa" que seria uma espécie de "manual de instrução" chamado instinto, que acabamos por deletar. O instinto nos animais lhes diz o que têm que fazer. O homem, no decorrer de seu processo de "evolução", perdeu parte deste instinto e, ao contrário dos homens de outras épocas, nenhuma tradição lhe diz mais o que deve fazer. E agora ele parece não saber ao certo o que é que realmente quer fazer.

O homem se tornou muito vulnerável ao marketing que massifica comportamentos e consumismos, e que muitas vezes é um agente que extermina o equilíbrio e a saúde do planeta. Não adianta aqui, discutirmos o por que, e acharmos o culpado, não creio neste retorno, mas podemos aprender com os conhecimentos da ciência moderna, como, por exemplo, tomarmos consciência deste novo contexto e nos comprometermos pessoal e socialmente com a preservação, prevenção e promoção do bem-estar e do equilíbrio da vida no Planeta Terra.

Só assim teremos pessoas saudáveis gerando empresas e sociedade equilibradas, com ambientes harmoniosos onde o respeito, a diversidade, a criatividade, a colaboração e a motivação são ferramentas que surgem, natural e espontaneamente, a partir do comprometimento pessoal com a Qualidade de Vida, que é a fonte geradora de auto-estima, autoconfiança, autopreservação, autocontrole e felicidade.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Nos Porões da Imigração

Artigo


*Por Eliakim Araujo

No NY Times desta quarta-feira, a triste história do chinês Ng Lui Hiu. Ele chegou aos EUA em 1992, quando tinha 17 anos, junto com os pais e a irmã mais nova. Continuou no país depois de vencido o visto e requereu o status de asilado político.

Enquanto isso, Hiu terminou o primeiro grau, entrou na faculdade, formou-se engenheiro de computador, fez estágio na Microsoft e trabalhava no Empire State Buinding, em Manhattan. Vivia com a mulher e os dois filhos numa casa no Queens, em Nova Iorque, onde aguardava a chegada do Green Card, requerido para ele pela esposa que tem a cidadania americana.

Mas ele não podia imaginar o que o futuro lhe reservava. Em 2001, uma convocação para comparecer à Corte foi enviada para um endereço inexistente. O juiz ordenou sua deportação, sem que ele fosse avisado. Em julho do ano passado, Hui foi fazer a última entrevista para receber o visto de residente permanente, o sonhado Green Card. De lá, ele não mais saiu. O oficial da imigração que o atendeu, mandou que o prendessem pois havia uma antiga ordem de deportação contra ele.

Hui ficou preso desde então em várias prisões. Em abril último, começou a queixar-se de fortes dores nas costas. Os analgésicos que lhe davam não faziam efeito. A família e os advogados imploraram pela sua liberação para que recebesse a assistência médica adequada. Nada comoveu a Imigração. Em 30 de julho ultimo, sem poder andar ou ficar de pé, e com manchas por todo corpo, Hui foi finalmente levado a um hospital. Mas era tarde. Os médicos dignosticaram um câncer que destruíra sua coluna vertebral e se espalhara por outras partes do corpo.

Hui morreu semana passada, dois dias depois de completar 34 anos. Ou seja, passou metade de sua vida nos Estados Unidos. Apesar de ter mulher americana e dois filhos nascidos no país, ele foi ignorado pelas autoridades imigratórias. Morreu em condições de inacreditável indigência. Até uma cadeira de rodas lhe foi negada e ele ia ao banheiro com a ajuda de outros presos.

O caso dele não foi o primeiro e certamente não será o último. Aqui mesmo, no DR, comentei outro dia o caso do brasileiro Edimar Alves de Araujo, 34 anos, detido durante uma blitz de trânsito e levado em custódia por estar em situação irregular no país. A irmã dele, Irene, assim que soube do ocorrido, foi levar-lhe um medicamento contra epilepsia que ele não podia deixar de tomar. Mas ela não conseguiu convencer os policiais dessa necessidade e eles não permitiram a entrada do remédio. Horas depois o brasileiro morria sob a custódia do governo norte-americano.

Obama ou McCain, quem quer que seja o escolhido, terá que enfrentar o problema dos imigrantes indocumentados. É impossível protelar uma decisão que envolve milhões de pessoas que já estão incorporadas à sociedade americana, mas que podem a qualquer momento caír nas mãos da repressão policial e aí tudo pode acontecer.

No ano passado, eram mais de 300 mil pessoas encarceradas nos porões da imigração, a grande maioria sem culpa formada, presas apenas pelo crime de não terem documentos legais. No Congresso dos EUA, se acumulam reclamações sobre maus tratos, falta de uma assistência médica adequada e violação dos direitos humanos.
Esses milhares de seres humanos, como o chinês Hui, querem apenas uma oportunidade de viver e trabalhar na “terra da liberdade”.


*Originalmente publicado no site www.diretodaredacao.com